Como foi fazer trabalho voluntário na África do Sul
Faço alguns trabalhos voluntários no Brasil e sempre quis fazer um no exterior, afinal estaria juntando o útil ao agradável, além do mais, quando se fala em trabalho voluntário, tem que ser para onde precisa. Aqui, conto como foi voluntariar na África do Sul.
Então, quando se fala em fazer trabalho humanitário, sempre vem à mente os países mais pobres. No meu caso, como seria o meu primeiro fora do Brasil, eu escolhi ir para a África do Sul.
Na minha opinião, a África do Sul é um grande exemplo de superação. Passou por um dos piores momentos da história da humanidade em função do Apartheid, que classificou o povo por sua “raça”, e permitiu, legalmente, que a minoria branca oprimisse a maioria negra.
A primeira coisa que fiz foi pesquisar como faria meu voluntariado, então visitei muitos sites que oferecem trabalhos voluntários até escolher um lugar que eu tivesse confiança e que me atendesse.
Foi assim que escolhi a Exchange do Bem, que é uma agência de intercâmbio social que conecta voluntários com diversos projetos ao redor do mundo.
São mais de 50 opções, nas Américas, África e Ásia para você realizar seu trabalho voluntário no exterior. Além disso, eles destinam 10% do lucro para ações sociais no Brasil.
Outra coisa importante é saber com você mesmo se está preparado para isso, afinal tem que ser uma decisão séria e consciente, porque é lógico que você terá lazer, mas na maior parte do tempo é trabalho, e trabalho sério e comprometido com o projeto que você escolheu, porque eles vão contar com você durante o período determinado.
No caso da Exchange do Bem, você faz sua inscrição no projeto que escolher e, feito isso, eles analisam se aceitam ou não sua inscrição. A ONG que me recebeu na África do Sul foi a You2Africa.
A participação nos projetos é paga, pois você está indo exatamente para ajudar e não para se beneficiar, e nos valores cobrados estão incluídos acomodação (em alojamentos para voluntários ou casas de família), alimentação, traslados e assistência local.
Meu voluntariado no Red Cross War Memorial Children’s Hospital
Eu optei por um projeto em um hospital para crianças, mas tem outras opções, tudo vai depender daquilo com que você se identifica.
Fui para o Red Cross, um hospital da Cruz Vermelha, que fica em Cape Town. Sobre Cape Town, escrevo em outro post. Me inscrevi no projeto para ficar três semanas trabalhando nesse hospital.
O Red Cross Hospital, foi inaugurado em 1956 através de subscrição pública, como um memorial aos soldados perdidos na Segunda Guerra Mundial.
A sugestão de que o memorial assumisse a forma de um hospital infantil foi proposta por Vyvyan U.T. Watson, que perdeu seu filho ainda criança.
Ademais, esse hospital é um dos dois hospitais públicos infantis na África, o outro é o Nelson Mandela. O Red Cross atende também pessoas de outros países da África, tais como: Congo, Suriname, Angola, Namíbia, Malauí e por aí vai.
Nesse hospital encontrei crianças com traumatismos, queimaduras graves e outras enfermidades, inclusive HIV.
Minha experiência como voluntária
Minha função como voluntária era principalmente divertir as crianças, alegrando-as e brincando com elas, mas, logicamente, com aquelas que tinham condições para isso.
Os brinquedos ficavam numa sala tipo uma brinquedoteca, que aliás estava precária de brinquedos, nela tinha quebra-cabeças, jogos de memória, livros, desenhos para colorir, lápis de cor, giz de cera e folhas de papel em branco.
Eu começava meu voluntariado às 09h00 e encerrava às 16h00, com uma pausa de duas horas para almoço. Ah, também tinha um horário para lanche, aproximadamente 15 minutos.
Para o almoço, eu ia num supermercado perto e comprava algo, comia na sala de descanso no próprio hospital e aproveitava para interagir com outros voluntários e pessoas que trabalhavam lá, afinal, todos eram muito bacanas.
Para chegar e sair do local do trabalho, uma van com motorista me buscava, assim como a outros voluntários, também nos deixando em nossos alojamentos ou residências ao fim do dia.
Como era o dia no trabalho como voluntária
Quando chegava de manhã a coordenadora dos voluntários, que era uma pessoa do hospital, me direcionava para a ala onde os voluntários deveriam ir, tinha uma folha de ponto para assinar e colocar o local onde estaríamos.
Em seguida, eu vestia um avental colorido que era para chamar a atenção e nos diferenciar dos demais.
Eu escolhia o que iria levar na sacola (também do hospital), a escolha era em virtude da ala que iria e da faixa etária das crianças que encontraria por lá.
No começo não acertava muito, mas depois fui pegando o jeito, e em três dias já estava adaptada e sabendo transitar pelo hospital.
O mais gratificante de tudo era chegar perto de uma criança e ver o sorriso dela quando eu chegava, nunca vou esquecer da deliciosa sensação e do bem que isso me fazia.
Muitas das crianças estavam acompanhadas da mãe ou do pai, que passavam dias sentados numa cadeira ao lado do leito do filho, esperando ele se recuperar. Do mesmo modo, também havia muitas crianças sozinhas e até aguardando para ir para um orfanato quando estivessem boas.
Era comum também a gente acabar se aproximando da família, afinal não dava para ficar alheia àquilo tudo.
Apesar de a maioria das crianças não falar inglês, somente dialetos africanos, eu ainda assim, aprendi que a linguagem do sorriso é universal; a do amor então, nem se fala.
Como me senti como voluntária
Por mais que eu falasse para mim mesma que não devia me apegar, não teve jeito, acabei me apegando a uma ou outra criança, Algumas delas, logo que eu chegava na porta do quarto já vinham ao meu encontro e grudavam em mim. Então, fala sério! Como não se apegar?
Elas faziam desenhos, alguns tocavam fundo do meu coração. Aliás, nunca tive tanto admiradores dos meus desenhos e olha que esse definitivamente não é meu forte.
Na imagem abaixo uma das crianças escreveu para mim e eu para ela, na outra uma outra me desenhou.
Um desenho meu que até ganhou lugar de destaque na brinquedoteca, veja abaixo.
Não apenas meu trabalho no hospital era gratificante, mas também teve o lado da amizade, pois ganhei alguns amigos muito queridos durante o meu período no Red Cross Hospital.
A esse respeito, foi legal que a You2Africa, também promovia eventos para interação entre os voluntários envolvidos nos vários projetos deles.
Pois bem, lembram que mencionei mais acima que a brinquedoteca estava meio desfalcada de brinquedos? E que inclusive muitos dos quebra-cabeças estavam incompletos. Então, por causa disso, eu e mais uma voluntária nos juntamos e conseguimos um pouco de dinheiro, e assim pudemos, fazer uma boa compra de brinquedos antes de virmos embora.
Com o pouco de dinheiro que sobrou, compramos fraldas para um orfanato.
No meu último dia de trabalho no hospital, imagina se não chorei na hora de me despedir.
Coisas que aprendi fazendo trabalho voluntário no exterior
- Não importa onde você esteja, o outro não é diferente de você;
- Fazer trabalho voluntário no exterior te proporciona também imersão em outras culturas e te ajuda a ver o mundo e todos que o habitam como iguais;
- Tanto faz aqui ou lá, sempre tem alguém precisando da ajuda de alguém;
- Uma viagem com o objetivo de voluntariado se torna mais importante do que a viagem em si;
- Saí da África do Sul me sentindo mais ajudada do que ajudei, nunca vou esquecer o que vivi ali;
- Conheci pessoas que também tinham o mesmo propósito que eu;
- Fazer o bem aqui ou lá pode ser muito divertido;
- Tive tempo para o lazer, mas o que me importava mesmo era meu trabalho como voluntária, afinal foi para isso que eu estava lá;
- Viajar como voluntária às vezes me colocou em situações inusitadas, que me tiraram da minha zona de conforto, afinal, eu não era turista, era parte da comunidade;
- Eu infelizmente não podia ajudar a solucionar problemas, mas podia pelo menos proporcionar alguns momentos de alegria por onde eu passava;
- Aprendi a morar por quase um mês num lugar com uma porção de pessoas de várias partes do mundo e a respeitar cada um deles.
Em resumo, fazer esse trabalho foi ótimo, primeiramente para sair completamente da minha zona de conforto. Essa é a beleza do voluntariado, você ajuda e ao mesmo tempo adquire conhecimento.
Viajar para um novo destino, ter a chance de vivenciar toda a realidade do país, numa verdadeira imersão cultural, uma imensa troca de conhecimentos.
Assim, posso afirmar, que sem sombra de dúvida, essa foi a melhor experiência que tive em minha vida e que para sempre ficará marcada em meu coração. Cada momento, cada reflexão, cada instante vivido nessa viagem, nesse projeto agora fazem parte do que sou. Daqui em diante, é só fazer as malas e embarcar para vivenciar outras experiências enriquecedoras.
Por razões óbvias não tirei nenhuma foto dentro do hospital com as crianças.
16 Comentários
KARINA
Olá, estou pensando em fazer isso agora em Fev 2020.
Fiquei desempregada e finalmente com tempo para fazer algo diferente sem ser uma simples viagem para estudar Inglês.
Pretendo fazer o curso pela manhã e o voluntariado neste hospital no período da tarde!
Voce acha que cape town é seguro para mulheres? Algumas pessoas já me disseram pra pensar bem antes de fazer isso, em razão da segurança. Agradeço se puder me responder!
Marta Souza
Oi Karina, você vai gostar bastante de ir fazer trabalho voluntário no hospital, e quanto a Cape Town ser seguro, a cidade é segura, mas sempre é bom não dá bobeira, né mesmo? Precisando tirar mais dúvidas é só me falar que terei prazer em te ajudar. Bjs
Carmella
Adorei saber da s experiência na África do Sul! Obrigada por compartilhar
Marta Souza
Carmella, que bom que gostou! Volte sempre! Abraços
Mozart davio baross
Quero ser voluntario na africa sou prosseros me sajudem
Marta Souza
Oi Mozart, o que gostaria de saber?
Marli Barbosa de Souza
Olá, muito boa tarde, adorei achar seu blog, tava precisando de um lugar assim onde eu pudesse me inspirar. A minha dúvida e desejo logo apos acabe essa pandemia. Uma pessoa como eu que viajou pouco e não fala ingles, seria muita loucura me candidatar à voluntaria como vc fez? Obrigada
Marta Souza
Oi Marli, fico feliz que esteja gostando de meu blog. De jeito nenhum, vá para a África do Sul, que é mais tranquilo em relação ao idioma, ou mesmo aqui dentro do Brasil. Se precisar de mais orientação fique à vontade para me perguntar. Abraços
Siloel Lima
Olá, Marta. Adorei sua história de trabalho e amor pelos carentes da África. Sou missionário na África e conheço a dura realidade do maravilhoso povo africano. Foi muito inspirador tudo que li.
O Senhor te ainda mais… e viva a África para sempre.
Marta Souza
Oi Siloel, muito obrigada! Que bom que gostou. Volte sempre.
Ana Paula de Almeida Nunes
Ei Marta, obrigada pelo relato. Tbem estou em processo de ir pela Exchenge do Bem, para Cape Town, será que ser possivel vc poderia falar um pouco sobre a parte economica na cidade, se é necessário levar um valor mais expressivo para passar 2 semanas? Agradeço a ajuda.
Marta Souza
Oi Ana, não lembro exatamente quanto levei, mas não é necessário levar valor expressivo. Eu tomava café da manhã na acomodação, como trabalhava num hospital na hora do almoço comprava um lanche num supermercado que tinha lá perto, à noite comia na acomodação, então não gastei muito por lá e de vez em quando fazia uma ou outra extravagância. As coisas lá não são caras. Qualquer dúvida estou a sua disposição. Abraços
Cecília Pereira
Oi, Marta.
Adorei o teu relato, esclareceu muita coisa para mim. Estou planejando ir a Cape Town fazer trabalho voluntário pela Exchange do Bem também.
Em meio ao trabalho, sobra tempo pra conhecer os principais pontos turísticos? E se sim, quais as dicas para conhecer os lugares de forma segura?
Desde já, Obrigada
Marta Souza
Oi Cecília, que bom que gostou! Sobra tempo sim, inclusive fiz viagens curtas nos finais de semana. Cape Town de um modo geral é segura, claro que como em qualquer lugar não se pode abusar. Os principais pontos turísticos eu escrevo sobre eles no meu post https://doidaporviagem.com.br/cidade-do-cabo-10-lugares-imperdiveis-para-conhecer/
Carlos Carioca
gostaria de ser vonluntario.
poderia me informar algum contato, para mais informações?
grato.
Marta Souza
Oi Carlos, no post tem um link para o Exchange do bem que foi por onde fiz o voluntariado na África do Sul. Qualquer dúvida estou à sua disposição. Abraços